Todo o site está de cara nova, incluindo o blog A língua nossa. Para estreá-lo e fazê-lo voltar à ativa, resolvi trazer um texto sobre o uso tão comum de O MESMO. 

 
 


 
De tanto revisar textos – sobretudo acadêmicos e jornalísticos – nos quais a palavra “mesmo” é utilizada de maneira inadequada, ou seja, para substituir termos já citados, notei que se trata de um uso comum.

Por isso, pesquisando, encontrei um texto muito bom sobre o assunto, escrito pelo famigerado professor de português Pasquale Neto, em um livro da coleção Português Passo a Passo – Principais casos de concordância nominal, o qual reproduzo na íntegra, abaixo:

 “O MESMO ENCONTRA-SE...”

Da próxima vez que você entrar em um elevador, preste atenção. Em muitos deles há uma advertência: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se...”. A frase é boa para discutir o emprego da palavra “mesmo”.

Ouvimos tantas vezes na escola que se deve evitar a repetição de palavras, que não se deve usar “ele” ou “ela” à toa, que acabamos procurando – e encontrando – soluções muitas vezes discutíveis.

Uma delas é o uso de “mesmo” e “mesma” no lugar de termo já citado: “Estivemos com o diretor, e o mesmo nos garantiu que...”.

 NÃO É RECOMENDÁVEL

Em geral, gramáticos e dicionaristas recomendam que não se empregue a palavra “mesmo” com esse valor. Alguns se recusam taxativamente a admiti-lo. O Aurélio é prudente: “Parece conveniente evitar ‘o mesmo’ como equivalente do pronome ele ou o”, diz o dicionarista, que depois arrola alguns casos.

Aurélio diz “parece” porque depois cita exemplo de ninguém menos que Camilo Castelo Branco: “A primeira mulher que amei era uma dama de alto nascimento, que tivera bastante influência no quartel-general de Lord Wellington, e jogara, por causa de um ajudante-de-ordens do mesmo, o sopapo com uma viscondessa celebrada”.

Antes do exemplo, Aurélio diz: “É tão frequente esse uso, pelo menos deselegante, de ‘o mesmo’, que podemos observá-lo num mestre como Camilo Castelo Branco”.

E depois dizem que vida de professor é moleza. E agora? O que devo dizer aos leitores? O que devo dizer aos que vão fazer vestibulares, concursos públicos, em que há prova de português e se exige esse tipo de conhecimento? Digo com toda a tranquilidade que, nessas provas, quando se pergunta algo a respeito, não se aceita esse emprego de “o mesmo”, por mais que um mestre o tenha abonado.

 ALGUMAS SUGESTÕES

No primeiro exemplo deste texto, basta trocar “o mesmo” por “ele”: “Estivemos com o diretor, e ele nos garantiu...”. Também seria possível usar um relativo: “Estivemos com o diretor, que nos garantiu...” Na frase do elevador, troque – sem medo – “o mesmo” por “ele”: “Verifique se ele se encontra...”.

Notou alguma algo em relação ao pronome “se”? Acontece que muita gente fica traumatizada com a colocação pronominal e, na escrita, tende a artificializá-la. A frase do elevador é exemplo claro. Atraído pela conjunção “se”, o pronome “se” fica antes do verbo: “Verifique se ele se encontra...”.

 

Fonte: CIPRO NETO, Pasquale. Conheça os principais casos de concordância nominal. Barueri, SP: Gold Editora, 2009, p. 30. (Português passo a passo com Pasquale Cipro Neto; 6).